CARTA DE UMA AMIGA ÍNTIMA
“Tenho 30 anos, sou advogada, entre outras profissões, bem-sucedida, bonita, dizem, casa própria, carro, não tenho de fazer grandes contas para uma vida razoável, uma mulher nascida e criada num ambiente familiar privilegiado, com estudos, com vida, com amigos, com recursos, e um convite para uma exposição de escultura. Vou e encontro pessoas distantes do mundo ideológico que abracei, ouço, como tantas vezes, o conselho: – tens de sair um pouco dos teus ambientes, são perigosos. Tenho um primo muito bonito, gosta de pintar, é artista, olha que coisa de esquerda, a este vais dar uma oportunidade. Rio-me do disparate e conheço o tal do primo, bonito, alto, corpulento, conversador. Tinha o encanto do humor. Fomos jantar duas vezes. Gostei dos lugares. Gostei da conversa. Gostei de recantos. Ao terceiro jantar, tive uma indisposição e o primo, encantador, ofereceu-se para me levar a casa, a pé, apanhando ar pelo caminho. Chegados a casa, o primo pousa-me na cama e dá-me ...