"O amor mascara-se tão bem que nem o nosso reconhecemos. Esconde-se atrás de  defesas e desencantos, interesses e projecções, modelos e ideais, ficando por  vezes encoberto, desfigurado, irreconhecível. Mas a capacidade de nos darmos aos  outros está lá, bem menos exigente do que pensamos, disponível e ávida,  aguardando apenas quem saiba descerrar. Na verdade, nem é preciso muito: basta  uma palavra, um eco, um simples gesto que nos comova, para darmos connosco a  desvalorizar todos os obstáculos e a entregarmo-nos cegamente. De um momento  para o outro começamos a querer bem a uma pessoa, elegendo-a sobre todas as  outras, e, quando damos por nós, estamos presos a ela por laços tão apertados  que, mesmo que quiséssemos, não saberíamos desatar. Outro aspecto que nos desconcerta é a evolução,  hesitante e assustada, de um sentimento. Diz-se e desdiz-se, afirma-se e nega-se  ao mesmo tempo, e o que é verdade hoje pode ser falso amanhã, para voltar a ser  verdade uma hora depois. Re...